A UNEMAT Curso de Pedagogia em parceria com a Secretaria Municipal de Educação com o CEFAPRO e com o Centro Acadêmico de Pedagogia, realizou no anfiteatro da UNEMAT nos dias 30/10 a01/11 de 2012 o II Encontro Anual de Educação, tendo como palestrantes o Professor Dr. Cesar Aparecido Nunes (UNICAMP) o Dr. Jaime José Zitkoski (UFRGS) a Dra. Maria Elly Genro (UFRGS) e a Dra. Eveline Bertino Algebaile (UERJ), todos os temas tratados dizem respeito as Políticas Públicas atuais e o processo de Humanização. O evento contou com a apresentação de várias pesquisas e artigos relacionados a esta temática.
Neste sentido as professoras Sara Cristina e Élidi Preciliana apresentaram o seguinte artigo.
AS CONTRIBUIÇÕES
DA PESQUISA SOCIOANTROPOLÓGICA PARA A ESCOLA DE FORMAÇÃO HUMANA
Formação
Continuada e Educação – Comunicação Científica
PEREIRA, Sara
Cristina Gomes1
Resumo:
este trabalho tem o objetivo de apresentar a concepção de formação
humana presente nas Orientações Curriculares do Estado de Mato
Grosso onde é apresentada uma proposta de reconstrução do
currículo através do complexo temático a partir do levantamento
socioantropológico. Abordamos também as transformações que essa
concepção propõe no sentido de rever o currículo e reconfigurar a
prática pedagógica. Reconhecendo
sempre que teoria e prática andam ciclicamente e que todos somos de
certa forma responsáveis pela mudança e pelas transformações que
almejamos vemos que as contribuições da pesquisa socioantropológica
na escola nos propiciará um olhar para a realidade de nossas
comunidades escolares. Esta será ponto de partida para reorganização
dos currículos escolares a partir dos Complexos proposto por
Pistrak, onde cada instituição escolar terá em seu currículo sua
identidade bem como suas necessidades formativas contempladas. Sendo
assim legitimadas pelos Projetos Políticos Pedagógicos de cada
instituição escolar.
Palavras-chave:
formação humana, currículo, pesquisa socioantropológica
As
novas determinações do mundo social e produtivo, contempladas pela
LDB 9394/96 apontam duas linhas epistemológicas que orientam a
elaboração das Orientações Curriculares para a Educação Básica
no Estado de Mato Grosso (OCEB) a primeira anuncia metas claras e
democráticas estabelecidas no sentido de organizar a ação política
do Estado em todas as instâncias, particularmente no tocante a
investimentos a segunda prevê uma concepção formulada de modo a
integrar todos os saberes, articulando formação científica,
tecnológica e cultural, com vistas a superar a ruptura
historicamente determinada entre uma escola que ensina a pensar
através do domínio teórico-metodológico do conhecimento,
socialmente produzido e acumulado e uma escola que ensine a fazer
através da memorização de procedimentos e do desenvolvimento de
habilidades psicofísicas (MATO GROSSO, 2010 p. 15).
É preciso
reconhecer então que a escola na atualidade se constitui como espaço
em que os filhos dos que vivem do trabalho podem ter acesso ao
conhecimento sistematizado, tal como ele foi produzido pela
humanidade ao longo dos anos. Assegurar essa possibilidade, mantendo
a qualidade da oferta pública da educação para a maioria da
população é crucial para que a possibilidade da transformação
social seja concretizada.
O que está em pauta então é a recriação da escola, que embora
não possa resolver as desigualdades sociais poderá, ao dar acesso
ao conhecimento à cultura e ao trabalho, ampliar as condições de
inclusão social.
No
texto das Orientações a escola única proposta para os Ciclos de
Formação Humana não deverá ter diferentes formas de organização
com diferentes qualidades uma destinada à formação da burguesia
outra destinada aos trabalhadores, mas uma mesma concepção teórica
metodológica que oriente para o trabalho intelectual e operacional.
Esta concepção de
educação faz uma clara contraposição entre a Escola Industrial
Fordista/Taylorista e a Escola de Formação Humana, onde outrora o
artesão que tinha conhecimento e domínio da totalidade do seu
trabalho, autonomia para organizar seus tempos e liberdade para
comercializar seus produtos, com a organização taylorista/fordista
tinha que ser reduzido a um trabalhador que dominava apenas um
fragmento do processo de trabalho sem ter o controle sobre ele e
sobre o que produzia e era comercializado pelo capitalista, métodos
que por vezes implicavam na ausência de mobilização de energias
intelectuais e criativas no desempenho do trabalho, pois a ele cabia
apenas memorizar e repetir de forma mecânica os movimentos
necessários à produção.
Desta forma o
fundamento do trabalho taylorista/fordista constitui-se de
fragmentação, posto que da manufatura à fábrica moderna, a
divisão capitalista faz com que a atividade intelectual e material,
o gozo e o trabalho, a produção e o consumo caibam a indivíduos
distintos, tanto as relações sociais e produtivas como a escola ao
educar o trabalhador para essa divisão.
Em decorrência, a
ciência e o desenvolvimento social que ela gera, ao pertencerem ao
capital, aumentando a sua força produtiva, colocam-se em oposição
objetiva ao trabalhador. Assim, o conhecimento científico e o saber
prático são distribuídos desigualmente contribuindo ainda mais
para aumentar a alienação dos trabalhadores.
A
escola neste sentido se constituiu historicamente como uma das formas
de materialização desta divisão e como espaço por excelência da
distribuição desigual e do acesso ao saber teórico divorciado da
prática, representação abstrata feita pelo pensamento humano e que
corresponde a uma forma peculiar de sistematização do conhecimento
elaborado a partir da cultura da classe dominante que, não por
coincidência é a classe que detém o poder material e que possui
também os instrumentos materiais para a elaboração do
conhecimento. Assim a escola fruto da prática fragmentada, passa a
expressar e a reproduzir essa fragmentação através de seus
conteúdos, métodos e formas de organização e gestão, mediante um
projeto pedagógico que tem sido denominado como taylorista/fordista
e que de acordo com Kuenzer (2000) deverá dar lugar a escola voltada
para a Formação Humana.
Neste sentido
Gramsci
(1978)
propõe como categoria para a compreensão da educação, o trabalho
como princípio educativo, mostrando que os projetos pedagógicos se
originarão das necessidades do mundo da produção e da existência,
o que implica não só no desenvolvimento de capacidades técnicas,
mas principalmente de uma concepção de mundo que aceite o trabalho
definido como “natural”, e não como necessidade do modo de
produção capitalista, para melhor explorar o trabalho, e assim
valorizar-se.
Sendo assim na
primeira etapa que atualmente correspondente ao Ensino Fundamental, a
escola propiciará a aquisição das capacidades básicas necessárias
à apropriação da cultura: ler, escrever, calcular, situar-se
histórica e geograficamente, bem como o desenvolvimento das
primeiras noções de Estado e Sociedade, sob a forma de direitos e
deveres (MATO GROSSO, 2010, p. 22). Tudo isso, com a finalidade de
iniciar a elaboração de uma nova concepção de mundo que supere as
desigualdades sociais.
A
educação neste entendimento tem duas ordens de problemas a
enfrentar: primeiro a universalização da Educação Básica e
segundo a reformulação dos currículos escolares. Portanto, as
Orientações Curriculares para o Estado de Mato Grosso vem
contribuir com esta segunda questão.
Em decorrência
desta transformação a ação educativa deverá proporcionar ao
cidadão/trabalhador conhecimentos mais profundos e contextualizados
para que o mesmo saiba comunicar-se adequadamente, trabalhar em
equipe, avaliar seu próprio trabalho, adaptar-se a situações
novas, criar soluções originais e finalmente ser capaz de educar-se
permanentemente. Neste sentido as Orientações apresentam a seguinte
finalidade para a educação básica:
a finalidade da
escola que unifica conhecimento, trabalho e cultura, é a formação
de homens desenvolvidos multilateralmente, que articulem à sua
capacidade produtiva às capacidades de pensar, de relacionar-se, de
desenvolver sua afetividade, de estudar, de governar e de exercer
controle sobre os governantes, ou seja: trabalho na perspectiva da
práxis humana e não apenas como prática produtiva, mas como uma
das ações, materiais e espirituais, que os seres humanos,
individual e coletivamente desenvolvem para construir suas condições
de existência. (MATO GROSSO, 2010 p. 18)
Desta forma o
trabalho como princípio educativo deriva do fato de reconhecer que
todos os seres humanos são seres da natureza e, portanto tem como
necessidades básicas alimentar-se, proteger-se das intempéries e
criar seus meios de vida. Neste contexto podemos perceber a
relevância da ciência e da tecnologia, quando tomadas como
propulsores de valores na tarefa de melhoria das condições de vida
das pessoas.
Neste sentido as
Orientações Curriculares para Mato Grosso argumentam, ser
necessário desenvolver um percurso educativo em que estejam
presentes e articuladas as duas dimensões, a teórica e a prática,
isso significa que a proposta político-pedagógica da Educação
Básica terá como principal finalidade o domínio intelectual da
tecnologia a partir da cultura, contemplando o currículo de forma
teórico-prática em seus fundamentos. Essa concepção permitirá ao
aluno da educação básica compreender os processos de trabalho em
suas múltiplas dimensões científica, tecnológica, cultural e
social, como parte das relações sociais.
Sendo assim a
Educação Básica terá como princípios científicos gerais, as
habilidades tecnológicas básicas e as formas de linguagens
próprias. Como a compreensão histórico-crítica da sociedade e das
formas de atuação do homem como cidadão e trabalhador, sujeito e
objeto da sua história tendo a rigidez de suas ações substituída
pela maleabilidade e flexibilidade e o intensivo trabalho coletivo
voltado para a formação humana na perspectiva da inclusão social.
Seguindo este
pensamento há que se construir um processo educativo que o leve a
dominar as diferentes linguagens desenvolver o raciocínio lógico e
a capacidade de usar conhecimentos científicos, tecnológicos,
sócio-históricos e culturais para compreender e intervir na vida
social e produtiva de forma crítica e criativa, construindo
identidades autônomas, intelectual e eticamente capazes de continuar
aprendendo ao longo de suas vidas. Torna-se necessário, portanto,
discutir a questão do método e como ponto de partida esclarecer que
não se trata de discutir apenas procedimentos didáticos ou o uso de
diversificados materiais, mas a própria relação que o aluno
estabelecerá com o conhecimento em situações planejadas pelo
professor ou em outras situações informais (MATO GROSSO, 2010,
p.29).
Desse movimento
decorre uma concepção metodológica que pode ser compreendida da
seguinte forma: o ponto de partida para a construção do
conhecimento é sincrético, nebuloso, pouco elaborado, senso comum;
o ponto de chegada é uma totalidade concreta, onde o pensamento
re-capta e
compreende
o conteúdo inicialmente separado e isolado do todo neste movimento
sendo síntese provisória configurando numa totalidade parcial que
será novo ponto de partida para outros conhecimentos onde os
significados vão sendo construídos através do deslocamento
incessante do pensamento das primeiras e precárias abstrações que
constituem o senso comum, para o conhecimento elaborado através da
práxis, que resulta não só da articulação entre teoria e
prática, entre sujeito e objeto, mas também entre o indivíduo e a
sociedade em um dado momento histórico (MATO GROSSO, 2010, p.29).
Lembrando sempre
que o ponto de partida para a produção do conhecimento são os
homens em sua atividade prática, aqui compreendido como o trabalho,
em todas as formas da atividade humana por meio das quais o homem
apreende, compreende e transforma as circunstâncias, ao mesmo tempo
em que é transformado por elas. Em síntese, o trabalho compreendido
como práxis humana, portanto, o eixo sobre o qual será construída
a proposta político-pedagógica, que integrará o trabalho,
conhecimento e cultura nas escolas se dará através de criteriosa
seleção de conteúdos para o desenvolvimento de capacidades e de
seu tratamento metodológico diversificado com a finalidade de que os
alunos sejam capazes de relacionar os conteúdos das disciplinas com
as relações sociais e produtivas que por sua vez constituem sua
existência individual e coletiva, construindo assim significados
para os mesmos (MATO GROSSO,2010, p.30).
A questão que aqui
se apresenta será a de propor situações de aprendizagem que tirem
o aluno da inércia e o leve a sentir necessidade de re-elaborar o
conhecimento, construindo suas próprias conceituações, mesmo que
ainda na superficialidade e depois confrontá-las com outros
conhecimentos, até que se construam conhecimentos com a profundidade
teórica esperada da escola. Neste pensamento o trabalho pedagógico
com princípios interdisciplinar e transdisciplinar substituirá o
enfoque disciplinar respondendo assim a diferentes lógicas de
aprendizagem. Isso significa que o currículo agora contextualizado
com a o seu entorno contemplará uma organização vertical e
horizontal composta por disciplinas unidas por um eixo transversal de
natureza transdisciplinar que tomará questões que mobilizem o
interesse dos alunos. Em consonância com este pensamento as
Orientações argumentam que a práxis enquanto processo resultante
do contínuo movimento entre teoria e prática, entre pensamento e
ação, entre velho e novo, entre sujeito e objeto, entre razão e
emoção, entre homem e humanidade, produz conhecimento e por essa
razão revoluciona o que está dado, transformando a realidade (MATO
GROSSO, 2010, p.33).
Neste sentido a
escola de “formação humana” diferente da escola tecnicista,
industrial – Taylorista/Fordista significará para um professor que
tenha se constituído como educador, mergulhar no mundo dos
educandos, perceber que cada um deles é um universo de criatividade,
de sensibilidade, de potencialidade, de afetividade e que cada um
deles tem uma história, uma identidade e, portanto, um jeito
singular de relacionar-se com o mundo, com o novo, com o
conhecimento, o que lhe confere necessidades e capacidades cognitivas
específicas, às quais o educador deverá responder.
Formação Humana,
portanto, é a antítese da repetição. A prática educacional
coerente com essas fontes recoloca mais uma vez a questão da
democracia. A democracia como método, como caminho de acesso para
beber nas fontes do currículo, para estruturá-lo e organizar o
ensino. Tal concepção introduz os processos participativos e a
práxis concreta do trabalho coletivo de organização do ensino e da
construção do conhecimento como atividade essencial da escola
(MATO GROSSO, 2010, p.54).
Nessa compreensão
Ciclos não
prescindem
do trabalho coletivo e da democracia como método. E democratizar a
escola não é apenas democratizar a gestão elegendo os diretores e
os conselhos, embora isto seja muito importante, pensamento em
conformidade com Azevedo (2007). A democratização da escola não se
realiza sem a democratização do acesso ao conhecimento e sem a
realização da aprendizagem de todos os sujeitos aprendizes e
compreender que por vezes a escola não é antidemocrática pelo
conteúdo que oferece, mas por oferecer diferentes propostas com
diferentes qualidades, uma aos trabalhadores intelectuais outra aos
operacionais (Gramsci, 1978). A democracia na escola, portanto, terá
um sentido pedagógico, não só por tratar de mecanismo de
viabilização do acesso ao conhecimento, mas também por ser em si
mesma aprendizado de cidadania, da própria prática democrática, da
convivência social e coletiva, tendo como fim último garantir a
aprendizagem para todos (MATO GROSSO, 2010, p. 52).
Neste sentido
desenvolver um movimento na educação com a pretensão de resgatar
os princípios da “formação humana” e re-significá-los em face
do contexto atual, construindo conceitos e valores identificados com
a valorização do ser humano, com uma ordem moral, ética e
política, democrática e inclusiva, comprometida com os ideais
emancipatórios e com a formação humana constitui-se um desafio aos
educadores e a sua concretização implica em intensivo trabalho
coletivo dos profissionais da educação que atuam em todas as suas
etapas especificidades e modalidades e na implementação de
políticas públicas que objetivem a formação humana, na
perspectiva da inclusão social (MATO GROSSO, 2010, p. 28).
Orientações
Curriculares para Mato Grosso: Bases teóricas
As Orientações
Curriculares para o Estado de Mato Grosso tem suas bases teórica nos
seguintes autores o Cientista político: Antônio Gramsci, o Educador
e filósofo: Paulo Freire, o Psicólogo: Lev Vygotsky, o Filósofo,
médico, político e psicólogo: Henri Wallon, o Filósofo
epistemólogo: Jean Piaget, o Educador: Moisey Pistrak e o Filósofo
e pedagogo: John Dewey dentre outros. O pensamento de Gramsci no
documento contribui no sentido de demonstrar as múltiplas formas e
possibilidades de organização da educação para adolescentes e
jovens o autor no documento referenda a concepção de escola única,
ao apontar a necessidade de construir progressivamente a autonomia
intelectual e ética nas fases de formação humana defendendo a
ideia de que a escola para adolescentes e jovens não se constitui
antidemocrática apenas pelo conteúdo que oferece, mas por oferecer
diferentes propostas com diferentes qualidades [...] (MATO GROSSO,
2010, p. 12).
Outra base teórica
presente no texto das Orientações é Jean Piaget que fundamenta o
Ciclo de Formação Humana, a partir das fases de desenvolvimento da
criança: “Como
primeira consequência dessa opção epistemológica, as Orientações
reafirmam os ciclos de formação humana como eixo organizador das
práticas pedagógicas no período compreendido entre 6 e 14 anos”
(MATO
GROSSO, 2010, p. 48).
Temos também as
contribuições de Paulo Freire ao estabelecer uma concepção
pedagógica onde a produção do conhecimento se dá no processo de
transformação da curiosidade ingênua para a curiosidade
epistemológica. A curiosidade ingênua é a que caracteriza o senso
comum. O desafio do educador é a critização e a superação do
senso comum, passando da desrigorosidade para a rigorosidade. Nesse
trânsito de superação, o educador deve ter “[...] respeito e
estímulo à capacidade criadora do educando, implica no compromisso
do educador com a consciência crítica do educando, cuja promoção
da ingenuidade não se faz automaticamente” (MATO GROSSO, 2010,
p.48).
A concepção de
Vygotsky no documento corrobora no sentido de compreender que a
cultura fornece aos indivíduos os sistemas simbólicos de
representação e suas significações que por sua vez se convertem
em organizadores do pensamento, instrumentos aptos para representar a
realidade” (MATO GROSSO, 2010, p.26). Em vários momentos, nesta
primeira parte do documento há citações de Vygotsky como no tópico
- “Aprender nos Ciclos da Vida” onde o autor diz: “A
aprendizagem se apoia em processos imaturos, porém em via de
maturação e com toda a esfera deste processo está incluída a zona
de desenvolvimento proximal, os prazos ótimos de aprendizagem, tanto
para o conjunto das crianças como para cada um deles [...]” (MATO
GROSSO, 2010, p.46).
Outra contribuição
teórica significativa é
a de Wallon
demonstrando a importância de se considerar aspectos comportamentais
e emocionais dos estudantes,
(in; Galvão, 1998). Esse
reconhecimento se concretiza quando a escola respeita e diagnostica o
comportamento dominante em cada etapa do desenvolvimento, estimulando
o processo de integração de comportamentos, o que é uma
necessidade inerente ao processo de construção da personalidade em
cada fase” (MATO GROSSO, 2010, p. 57).
Destaca-se no texto
também as contribuições de Pistrak ao contribuir com sua concepção
prática e teórica de organização do ensino o autor considera que
o objetivo da escola esta na compreensão crítica e dialética da
realidade, na qual os temas e fenômenos estudados deverão estar
articulados entre si e com a realidade macrossocial e universal. Essa
concepção de ensino permite aos educandos não só a apreensão do
real, mas também a intervenção consciente no mundo social e
cultural do contexto da sociedade a que pertencem. Equivale dizer que
o ensino por complexo é produtivo, se fizer a ligação efetiva
entre a atividade intelectual na escola, a prática social e a
auto-organização fora da escola.
Experiências nas
escolas com a reformulação do Currículo por Complexos Temáticos a
partir do levantamento socioantropológico
Os estudos sobre a
Formação Humana na escola tem evoluído nos últimos anos
especialmente no estado de Mato grosso por conta do trabalho com a
Organização Curricular por Ciclos de Formação Humana. Estes
estudos apontam para o entendimento de que as transformações que
deverão ocorrer nas escolas superam mudanças metodológicas, pois
apontam para uma transformação e entendimento de uma nova concepção
de educação. Neste sentido pede-se uma nova organização
curricular, que aqui neste texto apresentaremos como reorganização
dos currículos a partir de Complexos partindo do levantamento
socioantropológico baseado nos pressupostos teóricos de Pistrak
(1981), reorganização esta que deverá acontecer em cada unidade
escolar. Além dos estudos sobre Pistrak para este trabalho também
nos embasamos em Rocha (1996) que faz uma releitura desta concepção
para as escolas municipais de Porto Alegre já com a denominação de
Complexos Temáticos. As Orientações apresentam o pensamento do
autor da seguinte maneira:
Trata-se de
experiência concreta realizada por escolas da rede Pública
municipal de Porto Alegre. A investigação socioantropológica é
uma entrevista que os professores fazem na comunidade do entorno da
escola. Nesta visita, os professores organizam um roteiro de
conversas com as famílias procurando registrar as falas que
expressam questões concretas que envolvem a comunidade. A sua
história, suas lutas, seus ritos e mitos, o circuito de lazer, o
tipo de convivência, seu imaginário, enfim seus problemas mais
significativos. Em seguida o material apontado é discutido e
sistematizado no chamado Complexo Temático. Este é constituído por
um núcleo formado pelo fenômeno mais frequente nas falas da
comunidade. Em torno do fenômeno principal são colocadas as falas
mais significativas e em torno das falas os conceitos a elas
relacionados. Construindo assim o Complexo, as diferentes áreas do
conhecimento organizam o programa de ensino a partir do fenômeno e
das falas, trabalhando os respectivos conteúdos relacionados com os
conceitos e com o fenômeno do complexo. Esta prática estimula o
trabalho coletivo, a interdisciplinaridade e possibilita que as
questões concretas da comunidade apareçam na linguagem e no
conteúdo escolar conferindo significados aos processos de
aprendizagem. (MATO GROSSO, 2010, p.52)
Neste sentido e
seguindo as Orientações Curriculares para a Educação Básica de
Mato Grosso o Centro de Formação e Atualização dos Profissionais
da Educação Básica CEFAPRO/Sinop sob a Orientação da Secretaria
de Estado de Educação organizou e desenvolveu o Seminário com o
tema “Formação em Rede Orientações Curriculares para a Educação
Básica do Estado de Mato Grosso” nos dias 27 a 30 de agosto do
corrente ano, onde profissionais de 15 municípios que compõe este
Polo sendo eles (Cláudia, Colíder, Feliz Natal, Ipiranga do Norte,
Itaúba, Itanhangá, Lucas do Rio Verde, Nova Ubiratã, Santa Carmem,
Sorriso, União do Sul, Tapurah, Vera, e Sinop) participaram do
evento que teve como objetivo principal contribuir com a reconstrução
curricular das escolas de modo a considerar as experiências vividas
pela/na comunidade escolar, visando o replanejamento do trabalho
pedagógico na perspectiva interdisciplinar.
Considerando que
desde 2009 a Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso em
parceria com os CEFAPROS e com as mais de 700 escolas Estaduais tem
buscado através da Formação Continuada estabelecer um diálogo que
resultou na construção coletiva deste importante documento onde a
dinâmica deste processo envolveu encontros nas escolas, encontros
municipais, encontros regionais e por fim encontros Estaduais,
resultando de num período de aproximadamente 3 anos sua elaboração
e implementação. O Seminário apenas veio consolidar este processo
de reflexão/ação sobre a atual concepção de educação básica
para este Estado de Mato Grosso, dentre os temas discutidos no evento
tivemos:
- O materialismo
Histórico Dialético e a Educação
- O Ciclo de
Formação Humana e a Sensibilidade do Educador
- Orientações
Curriculares de Mato Grosso e a Democratização da Educação
- As ações
Pedagógicas Orientadas pelos Eixos Estruturantes
- Repensando o
Currículo na organização do trabalho Pedagógico
- Complexo temático
como ferramenta organizadora do Currículo
-As Contribuições
da pesquisa Socioantropológica na Escola.
Além destes temas
foram organizadas sete oficinas com a finalidade de demonstrar aos
profissionais de educação básica como poderão ser reorganizados
os Currículos nas escolas através do Complexo Temático a partir do
levantamento socioantropológico. No último dia do evento foram
socializadas pelos cursistas as experiências realizadas nas oficinas
e foram feitos também esclarecimentos de alguns aspectos do evento
pelos palestrantes. O CEFAPRO/Sinop então ao recolher as avaliações
dos cursistas e sistematiza-las pode perceber o grande desafio que
será para as escolas reorganizarem seus currículos nesta
perspectiva, porém a maioria das avaliações apontou serem estas
transformações no fazer pedagógico necessárias, tendo em vista as
atuais transformações sociais.
Segundo
entendimento dos envolvidos neste processo a insatisfação com a
escola e com a sociedade que temos motivará os profissionais da
educação a buscar entender esta concepção de homem e de sociedade
proposta pelas Orientações Curriculares. Relembrando sempre a luta
de Paulo Freire e outros intelectuais pela humanização da educação.
Este de fato deve ser o papel da educação, buscar nas contradições
e na construção coletiva uma forma diferente de vivenciar a
educação e transformar a realidade social que se nos apresenta.
Isto implica no
redimensionamento e no reposicionamento do educador que com pequenos
gestos e pequenas atitudes, fará surgir um novo fazer transformador
e inclusivo. Para tal o diálogo entre as diferentes fontes do
conhecimento fortalecerá estas ações, reconhecendo que as
angustias dos educadores são salutares pois demonstram a
predisposição dos mesmos a mudança. Para os educadores agora é o
momento da coragem e da ousadia, para não fazer apenas o trivial
mais ampliar os objetivos da escola e a dimensão de suas ações.
Reconhecendo sempre que teoria e prática andam ciclicamente. E que
todos somos de certa forma responsáveis pela mudança e pelas
transformações que almejamos, pois não somos sujeitos prontos e
acabados somos incompletos e desaprender ações pedagógicas que já
não são adequadas será desde já nossa principal preocupação.
Considerar o que
Paulo Freire já disse “ninguém educa ninguém, ninguém se educa
sozinho, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo"
Freire (1987) esta concepção de educação implica em compreender
que educar consiste em definir e buscar a própria identidade
apropriando-se de instrumentos para participar na sociedade assumindo
um compromisso social, entende-se assim que a educação só se dá
pela e na ação daquele que aprende, como sujeito aprendente.
Assim vemos que as
contribuições da pesquisa socioantropológica na escola nos
propiciarão um olhar para a realidade de nossas comunidades
escolares. Esta será ponto de partida para reorganização dos
currículos escolares a partir dos Complexos proposto por Pistrak
(1981), onde cada instituição escolar terá em seu currículo sua
identidade bem como suas necessidades formativas contempladas, sendo
estas legitimadas pelos Projetos Políticos Pedagógicos de cada
Instituição.
Motivadas pelo
seminário as escolas tem solicitado ao CEFAPRO uma reflexão mais
aprofundada sobre os temas trabalhados no evento. Desta forma o
Centro organizou grupos para apoio aos principais temas discutidos no
evento. Um dos temas solicitados para o trabalho na escola foi a
construção de um instrumento e metodologias para o levantamento
sócio antropológico. Neste sentido um grupo de professoras
formadoras tem ido às escolas para construir com eles o significado
e o instrumento que melhor represente o levantamento
socioantropológico de cada instituição escolar, este trabalho está
atualmente em desenvolvimento. Várias escolas tem construído
coletivamente este instrumento, com a orientação deste grupo de
professoras formadoras do CEFAPRO que elaboraram um Tópico Guia para
que cada instituição possa construir o instrumento de coleta de
dados de acordo com o interesse e a necessidade do coletivo escolar,
bem como escolham a melhor maneira para aplica-lo e sistematiza-lo,
afim de que tenham subsídio para reorganizar seus Currículos a
partir do Complexo Temático respaldados pelas Orientações
Curriculares para o estado de Mato Grosso. Desta forma este processo
culminará com a reorganização dos Currículos das Escolas de
Educação Básica por Complexo Temático para os próximos anos
letivos.
Referências
Bibliográficas
AZEVEDO, J. C.
Reconversão cultural da escola: mercoescola e escola cidadã. Porto
Alegre: Sulina, 2007.
GRAMSCI, A. Os
intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978.
MATO GROSSO.
Orientações Curriculares: concepções para a Educação
Básica. SEDUC/MT. Cuiabá, 2010.
PISTRAK,
M. M. Fundamentos da escola do trabalho. Tradução Daniel
Aarão Reis Filho. São Paulo: editora Brasiliense, 1981.
ROCHA, Silvio
(Org.). Ciclos de formação: a proposta político-pedagógica da
escola cidadã. Cadernos Pedagógicos, n. 9. Porto Alegre: SMED,
1996.
KUENZER, A. Z.
Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2000.
1Mestranda
INSES, CEFAPRO, cristina.sara.27@hotmail.com
2Especialista,
CEFAPRO, elidipavanelli@gmail.com
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